segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ensaio nº 1

No vazio do meu longo silêncio,
Quero afogar minha morte certa,
E deixar para trás tudo aquilo que me prendera,
E olhar para frente como mais uma quimera.

Pensar que para mim ainda há vida,
Pensar que para vida ainda há chance,
E que para toda chance que há de vir,
Haja alguma vida ali com ela.

Desisto, então, de ser mais um poeta amargurado,
De vender minha tristeza para transmitir profundidade.
Pois se não há felicidade no mundo,
Que tenha ao menos a sua própria ideia.

E mais, e tanto, e sempre,
Acreditar piamente que saí daquela cela.
Sentir o cheiro da liberdade,
E incessantemente deitar nos braços dela.


Pois não há mais como seguir,
Se não se acredita mais.


                                                                                  Yago Renan Licarião.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Latrocínio

A vida levou meus sentidos. Levou consigo, todas as minhas cores e minhas formas. Tomou para si os meus desenhos, os meus projetos. Despudorada, roubou meus dias, minhas ideias e minhas convicções. Meus pensamentos se foram como consequência dos suspiros afanados, e das lembranças esquecidas. Impiedosamente,  pegou meus sentimentos e a minha fé, e os jogou em águas inavegáveis. Posto que não me sobrasse mais muita coisa, matou também a minha juventude e a minha esperança. E para finalizar, estuprou meu amor e amordaçou a minha alma.

Sobra, então, a memória de dias que nunca vivi, de pessoas que não conheci, e de canções que nunca ouvi. Retalhos da vida alheia, pedaços de outrem, formando um misto de som e fúria em um corpo lacerado.

A vida levou meus sentidos, e com ela, todo o sentido da vida.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

‘...it’s all right.’

    Um feixe de luz que entra de viés pela janela distante, parece ser a tão sonhada esperança. Embora pequena, aquela luzinha tão longe parece ter acendido toda uma chama no interior daquele corpo; ter reativado um coração que já havia cansado de tanto bater em vão. Levantou-se de um pulo, e colocou todas as suas forças naquele percurso, mas a sensação era de não conseguir sair do lugar. E quanto mais se esforçava, maior parecia aquele trajeto. Uma luta pela liberdade valeria a pena para gastar todas as energias que ainda restavam. Correu, mas as portas se fechavam ao mero sentir da sua presença. As abria com o único fôlego que sobrara, e desviava os obstáculos repentinos. Mas aquela escuridão parecia esmagar qualquer sopro de vida da sua alma. Seu corpo sucumbia, mas a ideia fixa de se libertar daquelas trevas que só traziam angústia e agonia, a fazia caminhar.

    Após tanto tormento, sua vitória a esperava. Pois detrás daquela janelinha, por onde entrava um pedacinho tão discreto de luz, estava um sol quente e radiante para fazer queimar sua alma novamente. Uma luz tão forte, que bastava somente aquele feixezinho para reacender uma fogueira há muito esquecida. Uma luz de avivamento em um mórbido coração.