quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Espelho

          Não tenho espaço na minha confusão. Minha bagunça é área restrita, ninguém entra sem autorização. O emaranhado de ideias, pensamentos e sentimentos, defeitos e virtudes, verdades e mentiras, conceitos e preconceitos, é longo demais para qualquer um desembaraçar. Gosto da mistura, do desarrumado, do inquieto. Me deito no caos. Talvez seja essa a melhor forma de criptografar quem realmente somos. Sou um misto de tudo, um todo de partes; mostro apenas frações do que compõe meu inteiro. É certo que, tantas vezes, faz falta mostrar tudo. Porém, mais falta ainda faz alguém que compreenda.

          As vezes me perco dentro de mim. Tantas vezes os caminhos se confundem e não consigo enxergar plenamente. Faz parte da caminhada, se perder um pouco, pois quem anda sempre reto acaba perdendo o que não estava planejado. É uma via tortuosa a da introspecção, mas necessária para reavaliar quem somos, onde estamos e para onde estamos indo. É importante saber que todos devem conhecer sua própria confusão. Estou em constante mutação, torcendo por evolução. No meu travesseiro escondo meus medos e anseios. No espelho, escolho a melhor face. Nas minhas janelas encontro luz e trevas, e as minhas varandas as vezes não tem chão. Um mudo barulho com silencio gritante. Tenho um cérebro antíteco, deveras paradoxal. Mas mais do que tudo, uma alma inquieta e um coração que insiste em nunca parar de pulsar.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Rise

Quando reclamávamos com minha avó sobre ela colocar muito açúcar no café, ela sempre respondia: Meu filho, de amargo já basta a vida. Quando penso nessa frase, não sei muito bem qual a reação certa. Por tantas vezes penso como é verdade isso. A vida, muitas vezes, vem de repente e rouba nossos sabores, cores e razões. Sem avisar, leva tudo, e acordamos num quarto vazio, com os fantasmas do que já foi embora. No peito, a dor de uma saudade que nunca mais poderá ser saciada, de um desejo que não será suprido e um vazio que não irá ser preenchido. Quanta coisa já ficou pra trás até aqui, e quantas mais encontrarão um jeito de fugir?
No entanto, quantas vezes também a vida nos surpreende e nos enche de coisas novas? Chega um dia que acordamos e o quarto está mais uma vez decorado, dessa vez com tudo novo. Encontramos, aqui e ali, novas razões para sorrir, novas tintas para colorir, outros temperos para saborear. O vazio não só é preenchido, mas transborda. A saudade ainda continua ali, em uma parede. Porém, não amarga mais a vida. O nosso maior erro é colocar a nossa felicidade no que é efêmero; no que se pode perder. O açúcar perene do nosso existir só desce do céu, e deve ser nossa busca diária e incessante. Quando finalmente encontramos essa solução, os problemas, as tristezas, as angústias e os dissabores virão sim. Mas quando se forem, não vão mais roubar nosso sono e a nossa felicidade.
Quando caímos, fica difícil de enxergar uma maneira de se levantar. Sabe um segredo que insistimos em esquecer? Sempre há um recomeço. E por mais escondido que ele possa estar, no momento certo, ele nos encontra e a gente se reergue. Para cair de novo, talvez, mas nunca para permanecer no chão.