terça-feira, 30 de julho de 2013

Tons de verde

Certeza da vitória, certeza da salvação, certeza de benção. O cristianismo exposto nos púlpitos tem seguido a direção do mundo atual, que cada vez mais se distancia da verdade, confecciona ilusões e ludibria as massas. É fácil juntar pessoas com discursos de vida fácil e de melhora certa.

No entanto, infelizmente, esse falatório vai de encontro com tudo que encontramos na bíblia, afinal, Deus me parece preferir as incertezas. Tanto é que para segui-lo precisamos de fé, que é explicada como a certeza das coisas que  não se vêem, o que por si só já nos parece algo meio incerto. Na realidade, o que mais encontramos no cristianismo é a esperança. Temos a expectativa de melhorar nossa vida material, espiritual, e principalmente, a esperança de um dia chegarmos ao lado de Deus. Certamente, não seria necessário fé se a vida com Deus fosse tão exata. Esta, então, seria apenas uma equação matemática.

Por isso, sempre tenho pé atrás quando escuto um cristão que fala no exato, no certo. Tenho receio quando vejo pessoas levantando a mão afirmando que 'tem certeza da salvação'. E lamento muito ver pessoas que realmente acreditam que a vida seja uma ciência exata.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Dicotomia

A beleza é estranha para quem já acostumou com a feiúra.
A paciência é penosa para quem só sabe o que é impulso.
O afeto é vergonhoso para quem só viu desprezo.
A liberdade parece cárcere para quem detém algemas.
O cheio é exagero nos olhos de quem é vazio.
O som incomoda os ouvidos de quem é tolhido.
A luz cega quem é cheio de trevas.
A sabedoria engana quem se deleita na ignorância.
A felicidade é inalcançável para quem é tão fugaz.
O amor é passado para quem não tem futuro.
A vida não passa de um sopro para quem não agradece o respirar.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Espelho

          Não tenho espaço na minha confusão. Minha bagunça é área restrita, ninguém entra sem autorização. O emaranhado de ideias, pensamentos e sentimentos, defeitos e virtudes, verdades e mentiras, conceitos e preconceitos, é longo demais para qualquer um desembaraçar. Gosto da mistura, do desarrumado, do inquieto. Me deito no caos. Talvez seja essa a melhor forma de criptografar quem realmente somos. Sou um misto de tudo, um todo de partes; mostro apenas frações do que compõe meu inteiro. É certo que, tantas vezes, faz falta mostrar tudo. Porém, mais falta ainda faz alguém que compreenda.

          As vezes me perco dentro de mim. Tantas vezes os caminhos se confundem e não consigo enxergar plenamente. Faz parte da caminhada, se perder um pouco, pois quem anda sempre reto acaba perdendo o que não estava planejado. É uma via tortuosa a da introspecção, mas necessária para reavaliar quem somos, onde estamos e para onde estamos indo. É importante saber que todos devem conhecer sua própria confusão. Estou em constante mutação, torcendo por evolução. No meu travesseiro escondo meus medos e anseios. No espelho, escolho a melhor face. Nas minhas janelas encontro luz e trevas, e as minhas varandas as vezes não tem chão. Um mudo barulho com silencio gritante. Tenho um cérebro antíteco, deveras paradoxal. Mas mais do que tudo, uma alma inquieta e um coração que insiste em nunca parar de pulsar.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Rise

Quando reclamávamos com minha avó sobre ela colocar muito açúcar no café, ela sempre respondia: Meu filho, de amargo já basta a vida. Quando penso nessa frase, não sei muito bem qual a reação certa. Por tantas vezes penso como é verdade isso. A vida, muitas vezes, vem de repente e rouba nossos sabores, cores e razões. Sem avisar, leva tudo, e acordamos num quarto vazio, com os fantasmas do que já foi embora. No peito, a dor de uma saudade que nunca mais poderá ser saciada, de um desejo que não será suprido e um vazio que não irá ser preenchido. Quanta coisa já ficou pra trás até aqui, e quantas mais encontrarão um jeito de fugir?
No entanto, quantas vezes também a vida nos surpreende e nos enche de coisas novas? Chega um dia que acordamos e o quarto está mais uma vez decorado, dessa vez com tudo novo. Encontramos, aqui e ali, novas razões para sorrir, novas tintas para colorir, outros temperos para saborear. O vazio não só é preenchido, mas transborda. A saudade ainda continua ali, em uma parede. Porém, não amarga mais a vida. O nosso maior erro é colocar a nossa felicidade no que é efêmero; no que se pode perder. O açúcar perene do nosso existir só desce do céu, e deve ser nossa busca diária e incessante. Quando finalmente encontramos essa solução, os problemas, as tristezas, as angústias e os dissabores virão sim. Mas quando se forem, não vão mais roubar nosso sono e a nossa felicidade.
Quando caímos, fica difícil de enxergar uma maneira de se levantar. Sabe um segredo que insistimos em esquecer? Sempre há um recomeço. E por mais escondido que ele possa estar, no momento certo, ele nos encontra e a gente se reergue. Para cair de novo, talvez, mas nunca para permanecer no chão.