quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Commedia dell’arte

  O circo chegou na cidade! Pelo menos na minha cidade.

O circo sempre será sinônimo de alegria, para mim. Mesmo que hoje tenha perdido um pouco de sua essência, a magia a que me remete para mim ainda permanece a mesma. Sempre fui apaixonado pelo circo, por acrobacias, palhaços, contorcionistas, malabaristas… Na verdade, acho que fica melhor dizer que eu sempre fui fascinado. Esse mundo mágico sempre causa transformações em mim…E acho que é por isso que estou assim hoje: Feliz! A única explicação é que chegou um circo em mim. Hoje, poderia fazer os mais loucos números! A minha vontade é essa mesmo, de pular, de correr…De ser feliz. Enfim, acabaram meus tempos de Pierrot; parece que fui promovido à Arlequim, hein?
Quem convive comigo sabe como gosto de estar sempre alegre, sempre brincando. A verdade é que gosto de me divertir. Tenho muitos espectadores, mas como todo circo tenho aqueles que não gostam dos meus números. Sempre prezei pelo aprimoramento do meu show, e levo a sério minha função de fazer rir. A vida foi feita para isso mesmo, para dar risadas.
Então, minha querida Colombina, sua vida é uma peça, mas fique sabendo que a minha não..A minha é, e sempre será, um circo!
Espero que minhas atrações continuem te mantendo aqui.

E por fim, meu respeitável público, desejo a vocês um ótimo espetáculo. Agora quietinhos que o show vai começar! (Em 5 dias…5 dias.)

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Show da Vida

Você realmente estava certa ao dizer que sua vida era uma peça. No final, percebemos que todos nós somos feitos de vários atos. Vidas cronometradas, sincronizadas. Acho que fiquei assim, com Síndrome de Truman, agora. Esse filme me fez pensar bastante…
É impressionante a complexidade do assunto abordado. Um homem que vive num reality show da sua vida, sem saber. À priori, pensamos: “Que absurdo, isso não é ético, prender um homem dessa forma”. Não diga isso, pois aposto que você também está vivendo uma grande encenação.
Para mim, a cena mais importante do filme é a que o diretor é questionado sobre como fazer um reality show 24 horas, e forjar a vida de uma pessoa, sem que ela descubra. A resposta dele, simples e fácil, foi que nós nos acostumamos a viver com a realidade ao nosso redor.
Pare e pense um pouquinho… O que você tem feito da sua vida? Será que ela não tem sido mesmo, assim? Será que não estamos um pouco Truman, gostando de estarmos presos na nossa própria cela? Por que não tomamos logo a pílula azul?
A resposta é a mesma: Nós nos acomodamos. Há muito nos acostumamos a ver tragédias, problemas, caos. Hoje? Hoje é normal. Coloca um furacão devastando tudo no noticiário para nossas crianças poderem se divertir um pouco com as notícias do dia. Tudo é tão rotineiro. Tudo é tão encenado.
Levando para um outro lado, vemos também a encenação de cada personagem da ilha. Não se enganem, a ilha de Seahaven não existe mas todos os dias esbarramos como atores e atrizes diferentes, encenando na nossa vida. Talvez você mesmo, e até eu mesmo, tenhamos um papel, um script, nesse grande show da vida. A decisão de seguir o roteiro, ou criar seu roteiro, é sua. Mas é mais fácil ler e encenar, não é mesmo?
Há muito estamos presos na nossa própria caverna, e não vemos o outro lado porque não queremos ver. How’s it going to end?


”Caso eu não os veja novamente, tenham uma boa tarde e uma boa noite!”

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Return to Neverland

Parece que eu fiquei mesmo…E que mal há nisso? Peter nunca reclamou, que eu me lembre. Constantemente escuto vozes insistindo nessa coisa, repugnante: Crescer. Para quê?
Nosso amiguinho de roupas verdes parece que estava mais do que certo. Na maioria das vezes, é melhor viver na terra do nunca que nessa realidade tão inescrupolosa, nessa sociedade que dá nojo. Crescer, no fim das contas, só nos traz prejuízos.

Você vê 3 virtudes principais na criança: A pureza, Ingênuidade e a Inocência. E, infelizmente, à medida que crescemos, perdemo-as. A pureza, traço mais marcante na criança, é caracterizada pela mente limpa. A criança, aliás, é muito mais profunda que todos nós, seres complexos, justamente por isso: Ela é simples. E quem me dera ter um mundo e uma vida mais simples, hoje em dia. Sua ingênuidade para mim é mais como um escudo. É quando tal pessoa insiste em uma brincadeira maliciosa, e a criança com toda sua sabedoria responde: “Hã? Não entendi”. Eu também não queria entender uma porção de coisas, fique certo disso. E por fim, sua inocência. É incrível como elas simplesmente não tem culpa. Não tem culpa mesmo! Por pior que seja, na verdade elas nunca fazem por mal. E olha, nelas nós podemos acreditar, pois elas prezam, mesmo que sem saber, pela verdade. É uma pena nós crescermos tanto e nos gabarmos tanto da nossa pseudo-sabedoria.Parece aquela frase de Santo Agostinho: “Tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira”.

Por isso, minha cara Wendy, não consigo entender essa sua vontade incontrolável de crescer. Mais parece uma ansiedade tola de adulto. Crescer mais não vai te dar o que queres. Talvez você possa vir comigo, pra nossa Terra-do-Nunca. Amadurecer? Estou amadurecendo bastante; mais um pouquinho e eu volto a ser criança.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Paratodos

Vai meu irmão, ouça um bom conselho: É realmente inútil dormir que a dor não passa. O meu choro aqui pode até ser coisa pequena, mas é roubado a duras penas do coração. A Rita, levou meu sorriso no sorriso dela… Ahh, eu a amo tanto, e de tanto amar, acho que ela é bonita. Meus amigos me dizem que não é por estar na minha presença, mas eu vou mal demais. E eu acredito, pois vivo escutando “deixe a morena com a gente”. Sempre disse a ela que ela iria me seguir aonde quer que eu vá, mas agora já não tenho tanta certeza. Talvez seja porque estou desempregado…Agora, só faço escutar: “Vai trabalhar vagabundo”. Mas que há de mal em ficar fazendo samba? E por falar em samba, eu hoje fiz um samba bem pra frente, dizendo realmente o que é que eu acho!Foi pra ela, aliás…Jájá falarei dele. Mas falando do meu desemprego, passo na rua e escuto: “Eis o malandro na praça outra vez”…Quando me perguntam o que ando fazendo da vida, respondo irônicamente que eu faço samba e amor até mais tarde, e tenho muito mais o que fazer. Eu e meus amigos fazemos hora, fazemos fila na vila no meio-dia, só pra ver Maria, mas ainda não esqueci a Rita. Ontem, preparei uma carta pra ela que dizia: “Quando você me deixou meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem. Quis morrer de ciúmes, quase enlouqueci, mas depois como, era de costume, obedeci”. Mas não posso negar que ainda sofro esta tamanha perda. Por isso que até digo pra você  que me lê que deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa…E qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água! Já tentaram me alegrar, ontem de noite um amigo meu até bateu à porta e me disse para não chorar ainda que ele tinha um violão e íamos cantar, e se a felicidade for de samba podia ficar! Mas pra quê cantar, se só em cantar já me lembro dela? Lembro que todos os dias ela fazia tudo sempre igual, me sacodia às 6 horas da manhã. Me sorria um sorriso pontual e me beijava com a boca de hortelã! Queria que ela tivesse mirado no exemplo daquelas mulheres de Atenas, que viviam pelos seus maridos. Estou agora esperando por ela como Pedro Pedreiro espera o trem…Esperando, esperando, esperando…E voltando ao meu samba, fiz um samba especialmente pra ela, que falava de quando a gente se conheceu. Começava assim: “Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar cantando coisas de amor.”. Mas acho que ela não ouviu…Até disse na carta: Você não ouviu o samba que eu lhe trouxe. Ai eu lhe trouxe rosas, ai eu lhe trouxe doces. Aliás, fiz seu doce predileto, com açúcar e com afeto. Mas nada dela querer, éé… Parece que Madalena foi pro mar e eu fiquei a ver navios…Mas ainda espero poder dizer a ela: Vamos pra Bahia dengo, vamos ver o sol nascer, vamos sair na bateria, deixe de chilique, deixe de siricotico. Porque agora eu era um louco a perguntar o que é que a vida vai fazer de mim! 






E ainda me dizem que a vida não é só a poesia de Chico Buarque!