Ele
amava sua flor. Amava com todas as forças que alguém poderia amar, uma flor.
Todos os dias, tinha o cuidado de regá-la bem, e deixá-la aproveitar o dia
ensolarado. Ela parecia vibrar a cada raio de sol que alcançava suas delicadas
pétalas, mas, como um belo exemplar de lírio, não podia receber sol a todo o
momento. Então, com muito apreço, ele tratava de criar uma sombra todinha pra
ela. Nos dias de chuva, observava se sua amada não estava sufocada pela água.
Ele amava sua flor.
Certo
dia, acordou de um pesadelo e correu para fora. Já não estava lá seu precioso
lírio, aquele que tinha custado todo tempo e paciência. A flor que esgotara
suas forças, por quem ele derramou tantas gotas de suor, e fez derramar todo
seu amor. Sua bela flor, a mais bela, foi embora. Mas flores não andam, nem
conseguem se movimentar por conta própria. Percebeu então que outra pessoa
havia tirado-a de seu lugar. Ali, de joelhos em frente ao antigo lugar de seu
lírio, chorou. Chorou por acreditar ter se dobrado tanto em prol daquela flor,
e agora ela partiu, deixando um buraco não só naquele pedaço de terra, mas
também em seu coração. Agora, outro alguém poderia se esbanjar de felicidade
com a flor que ele criou, desde o começo. Chorou por pensar que ela levou
consigo seus maiores esforços para agora alegrar a vida de outro.
Ainda
em prantos, resolveu andar por outros lugares. Avistou, então, diversos lugares
de sua própria casa que ainda não conhecera muito bem. Descobriu infinitas coisas
a se fazer, novas formas de se ocupar e de encontrar um motivo para sorrir. Aos
poucos, sua flor fora deixando de ser um vazio para se tornar um belo quadro em
sua parede. Daqueles que enchem o lugar de alegria. Um bom quadro de
lembranças. Foi quando, então, sorriu. Sorriu por finalmente entender que sua
flor se fora, mas ele ainda possuía um jardim inteiro a sua volta.