domingo, 23 de dezembro de 2012

A flor e seu menino


                Ele amava sua flor. Amava com todas as forças que alguém poderia amar, uma flor. Todos os dias, tinha o cuidado de regá-la bem, e deixá-la aproveitar o dia ensolarado. Ela parecia vibrar a cada raio de sol que alcançava suas delicadas pétalas, mas, como um belo exemplar de lírio, não podia receber sol a todo o momento. Então, com muito apreço, ele tratava de criar uma sombra todinha pra ela. Nos dias de chuva, observava se sua amada não estava sufocada pela água. Ele amava sua flor.
                Certo dia, acordou de um pesadelo e correu para fora. Já não estava lá seu precioso lírio, aquele que tinha custado todo tempo e paciência. A flor que esgotara suas forças, por quem ele derramou tantas gotas de suor, e fez derramar todo seu amor. Sua bela flor, a mais bela, foi embora. Mas flores não andam, nem conseguem se movimentar por conta própria. Percebeu então que outra pessoa havia tirado-a de seu lugar. Ali, de joelhos em frente ao antigo lugar de seu lírio, chorou. Chorou por acreditar ter se dobrado tanto em prol daquela flor, e agora ela partiu, deixando um buraco não só naquele pedaço de terra, mas também em seu coração. Agora, outro alguém poderia se esbanjar de felicidade com a flor que ele criou, desde o começo. Chorou por pensar que ela levou consigo seus maiores esforços para agora alegrar a vida de outro.
                Ainda em prantos, resolveu andar por outros lugares. Avistou, então, diversos lugares de sua própria casa que ainda não conhecera muito bem. Descobriu infinitas coisas a se fazer, novas formas de se ocupar e de encontrar um motivo para sorrir. Aos poucos, sua flor fora deixando de ser um vazio para se tornar um belo quadro em sua parede. Daqueles que enchem o lugar de alegria. Um bom quadro de lembranças. Foi quando, então, sorriu. Sorriu por finalmente entender que sua flor se fora, mas ele ainda possuía um jardim inteiro a sua volta.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Tudo novo, de novo.


                Uma matéria da ‘Super Interessante’ certa vez trouxe o tema das nossas atividades rotineiras. Essa matéria, baseada em pesquisas científicas, afirmava que o nosso cérebro e corpo passava a efetuar as atividades costumeiras de forma automática, e isso significava que passamos a não perceber a realização dessas atividades. Isso explica coisas como não precisarmos pensar para passar a marcha do carro, ou se dirigir a lugares da rotina de maneira equivocada e displicente, pelo costume. O mais interessante, é que esse estudo comprova que são as novas experiências que nos trazem a sensação de viver.

                Com isso, é fácil perceber a importância de mudar. O universo inteiro está em uma constante mutação, todo o ecossistema tende a se alterar e se adaptar. Mas nós, seres humanos dotados de inteligência, insistimos em estagnar. Temos muito medo de alterar alguns segmentos de nossa vida, e acabamos nos prendendo ao passado de maneira prejudicial. Essa necessidade mutatória faz parte da longa caminhada que é a vida, e se não nos atentarmos para isso, corremos o risco de parar no tempo. Há quanto tempo não vasculhamos os nossos armários interiores? Eles sempre estão precisando de limpezas. Tal qual coisas velhas que guardamos em casa, sem a mínima necessidade, nossa alma permanece com muitas quinquilharias dispensáveis, ansiando por uma faxina. Pois, quanto mais acumulamos essas tranqueiras, menos espaços nós temos para novas coisas maravilhosas, que um dia até podem se tornar dispensáveis, mas no momento fariam toda diferença. Quanto tempo mais perderemos a sensação de viver em prol de lembranças fúteis?

                A renovação da alma é uma experiência sensacional, factível e imprescindível. Nos trás novos sorrisos, afetos, sentimentos, sentidos. Permite-nos viver de forma completa, sem migalhas. Por que não, correr com todas as forças para essa transformação? Viver tudo que há para viver e nos permitir, como já cantava sabiamente Lulu Santos. Pois é quando deixamos de rememorar que conseguimos comemorar.